Empresa que já foi símbolo de poder e inovação enfrenta risco de fechar as portas
Linhas extintas, marcaram a crise acentuada da Ingá - Foto: reprodução |
A Auto Lotação Ingá, outrora símbolo de poder em Niterói, agoniza diante de uma crise que ameaça seu legado.
A Auto Lotação Ingá, que já figurou como uma das empresas de ônibus mais poderosas de Niterói, está hoje mergulhada em uma grave crise financeira e corre o risco de encerrar definitivamente suas atividades.
Fundada na década de 1960, inicialmente sob a razão social Auto Viação Fluminense, a Ingá começou suas operações com poucas linhas, mas logo iniciou um processo de expansão. Ainda na mesma década, passou a operar as linhas 43 e 49 (Fonseca/Icaraí/Centro) e absorveu a linha 31 (Beltrão/Ponta d'Areia), adquirida da extinta Vital Brazil.
A "plataforma – fantasma" da Ingá, é o espelho da crise sem precedentes atravessada pela empresa que foi um império de transportes de Niterói - Foto: SpingRV Noticias |
A empresa cresceu rapidamente, comprando linhas de empresas menores. No início da década de 1970, passou a operar as linhas 25, 23 e 22. Nos anos 1980, a Ingá comprou a empresa Peixoto, incorporando as linhas 24, 15 e 60, consolidando seu domínio no transporte público municipal.
Na mesma época, a Ingá inovou ao contratar uma motorista mulher, Dona Léia, que se tornou uma figura emblemática da empresa ao dirigir ônibus na linha 22 (Teixeira de Freitas x Centro de Niterói), algo raro para a época.
Além disso, a empresa adquiriu ônibus no estilo jardineira, usados principalmente nas linhas 22 e 49. Apesar de um acidente que destruiu um desses veículos, a Ingá ainda vivia seu período de ouro, com prosperidade refletida no grande número de funcionários que se reuniam na porta da empresa no Largo do Moura.
O início do declínio
No final da década de 1990, as exigências da prefeitura começaram a pressionar financeiramente as empresas de ônibus. A Ingá conseguiu resistir inicialmente, mas seu declínio se acentuou nos anos 2010, especialmente após a chegada dos aplicativos de transporte como Uber, em 2014.
Com promoções agressivas, como milhões de corridas gratuitas, os aplicativos conquistaram rapidamente os passageiros, especialmente aqueles que faziam viagens curtas ou em grupos pequenos. Muitos perceberam que os carros de aplicativo eram uma opção mais econômica e prática, o que afetou diretamente empresas como a Ingá.
Outro fator agravante foi a concorrência dentro de suas próprias rotas, especialmente no bairro do Fonseca, onde as linhas municipais e intermunicipais competem intensamente.
A crise da pandemia
Em 2021, a pandemia da COVID-19 deu um golpe ainda mais severo na empresa. A Ingá enfrentou atrasos no pagamento de funcionários, reduziu drasticamente sua frota e viu suas linhas se deteriorarem, com ônibus sucateados e frequências cada vez menores.
A empresa retirou de circulação os carros conhecidos como “sereno” e, apoiada em decretos municipais, não os recolocou nem mesmo após o fim das restrições da pandemia. Além disso, a Ingá extinguiu as linhas 25 e 22, reduzindo ainda mais sua presença no sistema de transporte de Niterói.
A situação financeira levou a empresa a acusar a prefeitura de atrasar repasses relacionados às gratuidades de estudantes e idosos. No Terminal João Goulart, sua plataforma se tornou quase uma plataforma – fantasma, contrastando com o movimento das demais empresas.
Um futuro incerto
Após a pandemia, a Ingá conseguiu um leve alívio financeiro, mas está longe de recuperar seu antigo prestígio. Hoje, com uma frota reduzida, atrasos constantes e dificuldade em operar à noite, a empresa agoniza.
A verdade é que a Auto Lotação Ingá, que um dia foi símbolo de inovação e poder no transporte de Niterói, agora luta para sobreviver, sem a força de seus anos dourados. A cidade observa, com tristeza, o possível fim de um dos maiores impérios do transporte público municipal.
Por: William C Simas
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