As pessoas saim de perto do "Escravo Tigre" devido o odor que exalavam, e eles eram vistos com desprezo pela sociedade.
Foto: Ilustrativa que mostra a figura de um "escravo tigre" |
Os escravos tigres eram indivíduos escravizados ou "escravos de ganho" que desempenhavam uma função extremamente precária e desumanizante nas cidades brasileiras, especialmente no Rio de Janeiro, durante os séculos XVIII e XIX. Eles transportavam, em tonéis, os dejetos (fezes) domésticos das casas até locais de despejo, como o mar ou rios distantes, já que muitas residências da época não possuíam instalações sanitárias adequadas. Esse trabalho árduo e insalubre era realizado com os tonéis amarrados às costas, o que frequentemente causava vazamentos, deixando manchas brancas de ureia e amônia na pele dos trabalhadores. Esse efeito visual lhes rendeu o apelido de "tigres" ou "tigrados", devido às marcas que se assemelhavam a listras.
Esse tipo de trabalho era geralmente realizado durante a noite ou no início da manhã para evitar a presença de pessoas nas ruas, já que os escravos trabalhavam sujos e exalavam o forte cheiro dos dejetos que eram obrigados a carregar.
Era comum que as pessoas se afastassem dos escravos tigres ao cruzar com eles nas ruas.
A presença dos escravos tigres reflete a ausência de infraestrutura urbana e de saneamento básico no Brasil colonial e imperial. Somente na segunda metade do século XIX, com iniciativas de modernização promovidas por Dom Pedro II, houve um início de melhorias no saneamento da capital, o que gradualmente diminuiu a utilização dessa mão de obra. O declínio desse tipo de trabalho intensificou-se a partir de 1860 no Rio de Janeiro e em outras regiões do país, embora registros indiquem que em algumas cidades, como Recife, o uso desses escravos perdurou até cerca de 1882.
O legado dos escravos tigres é um triste lembrete do atraso social e das profundas desigualdades estruturais que marcaram — e ainda influenciam — o desenvolvimento urbano no Brasil.
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