7 - Entre dois mundos
As palavras dela ecoaram na minha mente como um trovão em plena noite silenciosa: "Porque eu não sou mais deste mundo, moço!".
Por um instante, fiquei paralisado. O frio que antes percorria minha espinha agora congelava meu corpo inteiro. Estava claro que Maria não era apenas uma mulher misteriosa, mas algo além da compreensão comum. Ainda assim, eu me recusava a aceitar essa realidade, mesmo com o cheiro adocicado de sua presença e o peso do que acabara de dizer.
— Como assim você não é deste mundo? — consegui balbuciar, ainda sem acreditar completamente.
Ela sorriu, mas não foi um sorriso de simpatia ou gentileza. Era um sorriso carregado de segredos e dores antigas, como se soubesse algo que eu jamais entenderia.
— O que você acha que estou tentando te dizer esse tempo todo? — Ela acariciou meu rosto com uma delicadeza inquietante. — Eu vim para te dar algo que ninguém mais poderia. Algo que você estava procurando, mesmo sem saber.
— Dinheiro? — perguntei, confuso.
Ela deu uma risada baixa, abafada pela brisa que passava pela viela. Parecia quase debochar da minha inocência.
— Não é sobre o dinheiro. Isso foi só um... incentivo. O verdadeiro presente é a escolha que você terá que fazer. Você está na fronteira, entre o mundo dos vivos e o dos mortos, e eu sou sua guia, moço.
Minha cabeça girava com o efeito do álcool, a revelação inesperada e a presença enigmática de Maria. A cada palavra dela, o ar parecia pesar mais, como se a própria realidade ao nosso redor estivesse mudando, se dobrando à sua vontade.
— Você está louca! — Finalmente consegui responder, tentando afastar o medo crescente dentro de mim. — Isso é algum tipo de jogo? O que você quer de verdade?
Ela suspirou e se afastou alguns passos, seus olhos escuros brilhando sob a luz fraca da viela.
— Eu não quero nada de você. Já fiz o que tinha que fazer. Agora, a escolha é sua: continuar preso ao que te arrasta para baixo, ao desespero, à solidão, ou aceitar a minha oferta e abrir os olhos para o que realmente existe além desse mundo.
— Mas o que você quer dizer com "esse mundo"? — perguntei, começando a duvidar de tudo ao meu redor. Era como se cada palavra dela questionasse minha própria existência. — Você está me dizendo que... eu estou morto?
Maria não respondeu imediatamente. Em vez disso, ela começou a andar lentamente, seus pés tocando o chão com uma leveza sobrenatural. Por um momento, parecia flutuar. Quando finalmente voltou a falar, sua voz estava mais suave, quase como um sussurro.
— Não... ainda não. Mas você está à beira, e é por isso que estou aqui. Você anda por aí, perdido, sem rumo, procurando algo que não sabe o que é. Sua alma está vazia, assim como as garrafas que você deixa sobre a mesa. E se você continuar assim, logo cruzará a linha sem nem perceber.
Engoli seco, tentando entender tudo aquilo. Algo dentro de mim lutava contra, rejeitava a ideia de que eu estivesse envolvido em algo tão... estranho, tão além do normal. Mas ao mesmo tempo, havia uma parte de mim, uma parte sombria e silenciosa, que sabia que Maria estava certa. Que algo dentro de mim já estava, de fato, morto.
— E se eu aceitar sua oferta? — perguntei, a voz saindo mais baixa do que eu esperava. — O que acontece?
Ela se aproximou novamente, sua presença cada vez mais hipnotizante, como se o próprio ar ao redor dela estivesse carregado de energia.
— Se aceitar, eu te mostro coisas que você jamais imaginou. Lugares, sentimentos, segredos enterrados no tempo e no espaço. Mas há um preço. Sempre há.
— Que preço? — minha voz saiu quase como um sussurro, cheio de medo e curiosidade.
— Sua alma... — disse ela, sorrindo. — Uma vez que você cruza a fronteira, não há mais volta. Você se torna parte de algo maior, mas perde algo que jamais poderá recuperar.
— E se eu recusar? — perguntei, com o coração acelerado.
— Se recusar, a vida segue. Você volta para o seu vazio, para o ciclo de desespero e solidão, até o dia em que a morte te encontra de verdade, e aí sim, já será tarde demais para escolhas.
Ela parou e olhou profundamente nos meus olhos, como se esperasse que eu tomasse minha decisão ali, naquele momento. O som da cidade parecia desaparecer ao nosso redor, e tudo o que restava era o peso da escolha que estava diante de mim.
De repente, a realidade começou a parecer distorcida. Eu não sabia mais se estava de fato acordado, se Maria era real ou apenas fruto da minha mente perturbada. Mas, ao mesmo tempo, sabia que qualquer que fosse a resposta, aquilo mudaria o rumo da minha vida para sempre.
— Eu... — comecei a falar, mas as palavras sumiram na minha garganta.
Maria apenas esperava, com aquele sorriso enigmático no rosto.
A decisão era minha. O que eu faria a partir daqui?
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**8 -**
_ Maria, eu preciso de um tempo para pensar e organizar as minhas ideias _ respondi, temeroso.
_ Está bem! Da próxima vez que nos encontrarmos, eu aceitarei seu convite para beber com você _ respondeu Maria, segurando a ponta do meu queixo com a mão.
Ela se virou, e seu cabelo bateu em meu rosto, trazendo consigo seu perfume diferente, e que me exitou.
Fiquei observando-a enquanto se afastava, até desaparecer em uma pequena curva do Beco do Teles.
Virei-me para ir embora e ouvi sua gargalhada ao longe.
Ao chegar em casa, joguei-me no sofá e senti o envelope duro embaixo de mim. Coloquei a mão no bolso e retirei o envelope grosso, percebendo que era a hora certa de abri-lo. E foi isso que fiz!
Dentro, havia um maço volumoso de notas de 200 reais. Comecei a contar e logo cheguei à soma de 20.000 reais. Era inacreditável que, por conta de algumas ervas, eu estivesse com aquela quantia em minhas mãos.
Por um momento, me perguntei se aquele dinheiro também teria um preço. Afinal, eu lidava com o desconhecido. Agora, sim, eu sabia que era algo totalmente desconhecido.
Dormi e acordei com o sol já raiando, sentindo como se algo estivesse sugando minhas energias. Era o cansaço da ressaca e uma noite de sono mal dormido.
Os dias se passaram e fazia exatamente sete dias desde que tive a experiência de encontrar Maria novamente no Beco do Teles.
Preciso confessar que, neste momento, não estava muito animado para reencontrá-la. Havia um certo medo em mim.
Não sabia se ela poderia me fazer bem ou mal.
Minhas dívidas estavam pagas e agora me sentia tranquilo quanto a isso, mas a solidão ainda me acompanhava.
Lembrei-me do que Maria havia me falado caso eu aceitasse sua proposta:
_"— Se aceitar, eu te mostro coisas que você jamais imaginou: lugares, sentimentos, segredos enterrados no tempo e no espaço. Mas há um preço. Sempre há."_
Pensei que o que Maria estava me oferecendo era algo que eu poderia buscar e conquistar, sem me arriscar em algo mais profundo ou no desconhecido.
Estava na Cinelândia, em mais uma noite de domingo, quando, sozinho, imaginava o que diria quando ela voltasse a aparecer.
Enquanto pensava, tomava minha cerveja sentado em um tradicional bar da Cinelândia, até que uma pessoa se aproximou e tocou meu ombro, dizendo:
_ Boa noite, moço. Será que o senhor poderia me ajudar?
Virei-me e vi uma jovem mulher, de cabelos negros e cacheados, com a pele muito branca e um rosto inocente. Ela parecia um pouco aflita.
_ Pois não, senhora. Como posso ser útil? _ perguntei.
_ Moço, eu acabei de esquecer meu celular no carro do aplicativo e queria saber se você poderia me emprestar o seu para eu entrar na minha conta e tentar localizar o motorista.
Notei o quanto a jovem estava aflita e imediatamente lhe entreguei o telefone. Pedi que se sentasse comigo à mesa, para que pudesse ficar mais tranquila enquanto tentava entrar em contato com o motorista.
Ela ficou alguns minutos mexendo no celular, enquanto eu tomava minha cerveja, observando seu semblante preocupado e como seu rosto era bonito.
Ela colocou o celular em cima da mesa e disse: _ O senhor está com muita pressa? _
_ Não, não estou. Por quê? _ respondi.
_ Porque o motorista disse que está um pouco longe daqui e que terá que levar um passageiro em Santa Cruz antes de voltar para me entregar o celular.
Imaginando a situação da moça, decidi esperar, mas lhe disse:
_ Posso esperar um tempo, mas espero que ele não demore muito. Pois, quando meu sono bate, não consigo segurar _ respondi.
Iniciamos uma conversa. Ela me contou que era da Bahia e havia chegado ao Rio de Janeiro há pouco tempo para trabalhar alguns meses. Disse que estava sozinha e passaria a noite em um hotel.
Fomos conversando e fiz questão de que ela tomasse algo comigo, mas ela se negou a beber e acabou aceitando apenas um refrigerante.
Conversamos por mais de uma hora, e ela compartilhou um pouco da sua vida. Disse que era de Ilhéus, que seus pais trabalhavam em uma fazenda de cacau, mas atualmente estavam aposentados. Ela se tornara dançarina e daria aulas de dança no Rio por apenas alguns meses.
Já era quase 2 da madrugada quando, finalmente, o motorista retornou com o celular da moça. Ela veio até a minha mesa novamente para agradecer, e perguntei se poderia voltar a vê-la, talvez até em uma aula dela de dança. Ela foi muito gentil e concordou.
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Claro! Aqui está a versão revisada do capítulo 9, incluindo as novas diretrizes sobre a proposta de Maria:
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**9 -**
Os dias se arrastaram desde o nosso encontro, e a imagem da jovem dançarina da Bahia ainda pairava em minha mente. Seu sorriso e a forma como falava sobre suas experiências me deixaram intrigado. No entanto, o que mais me perturbava era a lembrança de Maria e da proposta que ela me fizera.
Certa noite, buscando distração, voltei ao Beco do Teles. O cheiro das ervas ainda pairava no ar, e a atmosfera mágica do lugar me lembrou de tudo que eu havia vivido ali. Ao caminhar, percebi que a solidão que sentia estava se intensificando, como se eu estivesse à beira de uma decisão crucial.
Então, para minha surpresa, avistei Maria. Seu cabelo dançava suavemente ao vento enquanto ela se aproximava de mim com um sorriso enigmático. Nossos olhares se encontraram e, com um movimento suave, ela se posicionou ao meu lado.
_ Você veio me procurar? _ perguntou Maria, sua voz suave, mas repleta de uma intensidade que me fazia tremer.
_ Eu… não sei se estou pronto para isso _ respondi, tentando controlar a hesitação em minha voz.
_ O que você teme? _ indagou, sua expressão séria. _ O desconhecido é intimidador, mas pode também ser libertador.
As palavras dela ecoaram em minha mente, e eu me senti dividido entre a segurança da rotina e o apelo da aventura que ela representava. _ E se o preço for alto demais? _ perguntei, a ansiedade crescendo.
_ Tudo na vida tem um preço. Mas, por vezes, o que você descobre pode valer mais do que você imagina _ respondeu, inclinando-se um pouco mais perto.
_ O que você quer de mim, Maria? _ questionei, sabendo que a resposta poderia mudar tudo.
_ Eu quero que você escolha. _ Ela respirou fundo, como se estivesse se preparando para revelar um segredo. _ Se você decidir ficar comigo, será meu parceiro para sempre. A partir do momento que você me beijar, o pacto estará selado. Você não poderá tocar em nenhuma outra mulher.
Suas palavras me deixaram atordoado. _ E se eu não quiser? _ perguntei, o medo se misturando à curiosidade.
_ Se você recusar, eu desaparecerei para sempre _ ela disse, com um olhar que misturava tristeza e determinação. _ Você nunca mais poderá me encontrar.
Fiquei em silêncio, tentando processar tudo o que Maria acabara de me dizer. Havia uma atração intensa entre nós, algo que eu nunca havia sentido antes, mas a ideia de perder todas as outras possibilidades me aterrorizava.
_ Eu não sei se posso fazer isso _ confessei, a voz embargada.
_ Pense com o coração, não com a razão _ ela aconselhou, sua mão delicadamente pousando sobre a minha. _ O amor verdadeiro exige sacrifícios, mas os presentes que você receberá serão infinitos.
A pressão do momento era avassaladora. Eu sabia que estava à beira de uma escolha que mudaria o curso da minha vida. Olhei em seus olhos e vi uma mistura de esperança e vulnerabilidade, o que só aumentou minha confusão.
_ E se eu decidir? _ indaguei, quase com medo da resposta.
_ Então estaremos juntos, compartilhando um mundo que poucos conhecem. Mas a escolha é sua, e eu respeitarei qualquer que seja a decisão _ respondeu, sua voz agora um sussurro suave.
A música do Beco do Teles continuava a tocar ao fundo, como se o universo estivesse esperando por minha resposta. A ideia de um futuro ao lado dela era tentadora, mas a possibilidade de renunciar ao que conhecia também era assustadora.
Respirei fundo, pesando cada palavra, cada sensação. A escolha estava nas minhas mãos, e o tempo parecia se esgotar.
_ O que você vai decidir? _ perguntou Maria, seu olhar fixo no meu, esperando.
10 -
_ Maria, você é uma mulher encantadora, e eu não tenho sombra de dúvidas que qualquer homem gostaria de ter você. Mas eu não posso fazer isso!
Você mesma, pelo que me disse, não é bem uma pessoa deste mundo. Completei.
Maria virou as costas para mim, andou três ou quatro passou e com uma das mãos se escorou na parede, e olhou para o chão. Os cabelos dela balaçavam com uma brisa suave.
Por um omento, vi que aquela mulher poderosa, ainda que parecesse não pertencer de verdade a este mundo, ainda tinha dentroe de si a capacidade de ter sentimentos.
_ Você agora tem dinheiro, e podes ter a mulher que desejar. - Disse, Maria.
Eu me aproximei dela, e coloque a mão em sua cintura. Ela se virou para mim, e olhou profundamente em meus olhos.
Rapidamente, olhei seu decote, e entre os seios que pareciam queimados do sol, aparecia o cabo de uma navalha. Ela notou que eu estava olhando e sorriu.
_ Vamos beber, e eu sumirei para sempre de sua vida. O que eu tinha que fazer por você, eu já fiz.
Agora, vai atrás da bailarina. Completou, maria.
Um arrepepior eu senti naquele momento, pois como ela poderia saber da bailarina? Apenas para ter certeza, eu perguntei:
_ Que bailariana?
Ela continuou andando para dentro do Beco do Teles enquanto rebolava a cada passo.
_ A talzinha da Bahia! Disse ela.
Eu segui Maria, e ela sentou -se em uma mesa, no fim do Beco do Teles.
O garçon, se aproximou e perguntou o que ela iria querer, e eu vinha me aproximando, e ela sem responder o garçon, olhou para mim.
_ Uma cerveja, por favor. respondi ao garçon.
_ Porque você anda com essa navalha? Perguntei curioso.
Ela deu um sorriso, e disse;
_ É uma mania. Mas já me serviu muito, e serviu a muita gente, moço! É proteção!
Ficamos ali bebendo por um tempo, até que uma senhora se aproximou com um balde de flores, e eu peguei uma rosa vermelha, e paguei a senhora, e dei para Maria, uma rosa vermelha.
Ela pegou a rosda, e passou a ponta das petalas no rosto e fechou os olhos. Ao mesmo tempo ela respirou fundo, e segurando as rosa com uma das mãos, passava a rosa pelo rosto, e ainda de olhos fechados, ela colocou a outra mão em cima da minha.
Meu corpo esquentou, e meu coração acelerou.
Ela abriu os olhos, e disse:
_ Obrigado! Adoro rosas!
Maria passou a mão pelos cabelos ajeitando - os rapidamente, e se levantou, e disse:
_ Adeus! Muito axe em tua caminhada, moço.
Eu tentei falar, mas um nó do nada veio na minha garganta e prendeu minhas palavas.
Maria se levantou , e segurou com as duas mãos suas saia, e girou, e olhou para mim, e sorriu, e saiu andando, fazendo a curva na esquina, e e desaparecendo de minhas vistas.
Alguma coisa me dizia que ela estava indo embora para sempre. Eu fique ali por mais um tempo pensando, e mesmo estando com dinheiro, eu me sentia sozinho. O que poderia fazer agora?
Iria encontrar a bailarina?
Alguns dias se passaram, e numa noite de sexta feira após sair do trabalho, algo louco me veio a cabeça. Eu continuava solitario, e começava a sentir falta de ter alguém ao meu lado. Naquela ocasião, minha carencia estava chegando ao maximo, quando resolvir ir me distrair em um local onde houvesse musica, cigarro, bebida, e mulheres.
Peguei um carro de aplicativo, e soltei na rua Sotero do Reis na praça da Bandeira.
Estava na conhecida e famosa, Vila MImosa. Uma das zonas de prostitução mais conhecidas, tradicionais e famosas do Brasil.
O movimento na rua era grande, e também dentro das boates.
Havia becos, e quando o visitante entrava nos becos, ele encontrava mais boates, e mais mulheres. Mulheres lindas, maravilhosas de todos os tipos e para todos os gostos.
Entrei em uma boate, e pedi uma cerveja. Me aproximei de uma maquina de caçaniqueis, e coloque uma nota, apenas para tentar a sorte.
Estava já distraido no joguinho, quando uma mão suave passou no meu traseiro, e uma voz me disse:
Procurando diversão, moço?
Olhei para o lado, e uma moça, de pele bem clara, e cabelos lisos, que batiam em seu bumbum, estava ali. Usava uma franja que escondia a testa, e deixava seu delicado rosto mais bonito, e tinha um ar de inocencia.
Apenas duas peças de roupa. A parte de cima do biquini tampando os seios, e a debaixo, tampava sua genitalha.
Eu me virei para ela, e olhei no seu rosto, e depois meus olhos passearam noseu corpo que era perfeito.
Sem que eu pudesse falar mais nada, ela pegou minha mão e disse: E ai, vamos?
Meu sorriso leve para ela, deu lhe a entender que eu estava concordando.
Ela foi até um rapaz, que disse para mim, pague a ele!
Este cara não erao cafetão, pois no local, estas figuras não se encontram. Era só o empregado da buate que aluga os quartos.
Apos realizar o pagamento, o individuo me deu uma preservativo, e subi em uma escada em formato de caracol até o sengundo andar.
O quarto era pequeno, mas limpo. Tinha uma cama, uma mesinha, um sexto de lixo, e mais nada.
Deitamos e começamos a nos acariciar, até que consumei o ato.
E acendi um cigarro, enquanto a jovem colocou sua cabeça em meu braço servindo de travesseiro.
Quando meu cigarro já estava quase no fim, olhei para o lado onde estava a mesinha, e por um instante meu coração acelerou rapidamente, e depois um arrepio.
Olhei para cima da mesa, e uma navalha estava em cima da mesa. Mas como, se ao entrar, ela não estava ali?
_ Querida, essa navalha é sua? Perguntei
_ Não é sua? respondeu a jovem
Me levantei intrigado e coomecei a vestir minha roupa.
_ Já vai? Perguntou a moça. - Vai voltar quando? Me procura quando voltar?
Peguei rapidamente a navalha, e coloquei no bolso. E me virando para jovem, entreguei um cartãozinho.
_ Não costumo vir muito aqui, princesa, mas se você quiser, pode me procurar.
Sai andando pela rua e quando cheguei no fim da rua, tirei a navalha do bolso e fiquei observando. Era identica a de Maria.
Seria um sinal de Maria?
11-
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Já haviam se passado muitos dias desde que encontrei a bailarina na Candelária. Naquela ocasião, peguei o telefone dela e me lembrei de que ela estaria no Teatro Municipal para dar aulas.
Entrei no teatro e, de fato, ela estava lá. Havia algumas pessoas com ela. Eu me sentei na última fileira, mas algo me desmotivou a ir até ela. Fiquei ali, observando como ela ensinava aos jovens, mas, depois de alguns minutos, desisti de me aproximar. Ela não me encantou de verdade.
Enquanto pensava em Maria, confesso que imaginei algumas vezes aquela jovem garota de programa da Vila Mimosa.
Voltei ao cemitério para depositar flores no túmulo de minha falecida esposa. O ar silencioso do cemitério me fazia meditar sobre muitas coisas. Sentei-me ao lado de seu túmulo e coloquei as flores sobre sua sepultura. O cemitério estava deserto e silencioso, e o vento arrastava as folhas secas pelo chão.
Tirei um cigarro do pacote e comecei a procurar o isqueiro, mas percebi que havia perdido. Revirei os bolsos da calça e da camisa, e nada. Quando estava prestes a tirar o cigarro da boca, uma mão feminina surgiu à minha frente, com o isqueiro na mão e a chama acesa na ponta do meu cigarro.
Reconheci o anel com a pedra vermelha e me virei. Era Maria!
— Maria! — disse, surpreso em encontrá-la.
Ela acendeu meu cigarro, deu alguns passos, segurando a barra da saia, e se sentou na sepultura de minha falecida esposa. Pediu licença antes de se sentar e olhou para mim com um leve sorriso no rosto.
— Você sentiu minha falta? — perguntou ela.
— Senti! — respondi de forma direta.
— Onde está a baiana?
— Procurei por ela, Maria, mas não senti nada quando a vi. — respondi.
— E a jovem da Vila, essa você gostou, não gostou? — ela perguntou, olhando um pouco atravessada para mim.
Quando fez essa pergunta, olhei diretamente para o decote de Maria e vi que a navalha não estava entre os seios dela.
— Onde está sua navalha? — perguntei.
Maria se levantou, sentou-se ao meu lado, colocou a mão sobre minha perna e disse:
— Eu vou na sua casa hoje à noite buscar. — Fez uma pausa e continuou: — Você não quer ficar comigo, não é?
— Maria, o preço para mim é muito alto. Como viverei com você, se você não está aqui de verdade?
— Esse não é o verdadeiro problema, moço. O problema é que você não sabe se conseguirá ficar sem outras mulheres. E essa é minha condição.
Eu teria que vir e te levar para o outro lado, como te levei na festa do barracão, para que pudéssemos nos encontrar. — Maria continuou: — Eu gosto de você! A moça da Vila é uma boa moça, sabe... Ela vai te procurar porque precisa de você. E, assim como eu te ajudei, você tem que ajudar ela. Ela tem uma filha doente, e é por isso que ela vai te procurar. Não se preocupe com dinheiro, pois eu estarei com você, te ajudando, enquanto você for caridoso com as pessoas. Esta noite, me espere na sua casa!
Maria se levantou, pegou uma garrafa de bebida que alguém havia deixado perto de uma árvore, colocou o gargalo na boca e bebeu. Olhou para trás e, erguendo a garrafa na minha direção, fez um gesto como se estivesse brindando comigo.
À noite, preparei um jantar à luz de velas e comprei algumas bebidas.
As horas passaram, e Maria não apareceu! Estava prestes a desfazer a mesa e ir dormir, quando fui ao banheiro. Depois de urinar e tirar a roupa para dormir, ao voltar para a sala, lá estava ela, sentada no sofá, com uma taça de vinho em uma mão e um cigarro na outra.
Ela ergueu a taça e disse:
— Boa noite!
Maria se levantou, veio em minha direção, entregou-me a taça e, em seguida, colocou um pouco de vinho na boca e aproximou os lábios dos meus para me beijar. Lembrei do pacto e me afastei. Ela me segurou e disse:
— Não tenha medo! Não está valendo! — disse, referindo-se ao pacto de fidelidade.
Novamente, ela colocou o vinho na boca e se aproximou para me beijar. Eu a beijei e, ao mesmo tempo, ela transferiu o vinho de sua boca para a minha. Não recusei.
Tirei a navalha do meu bolso e a coloquei entre os seios dela.
Ela repetiu que a jovem da Vila Mimosa viria me procurar e que eu deveria ajudá-la. Disse também que eu deveria tratar bem a moça.
— E quanto a você? — perguntei.
— Eu te dei a oportunidade de escolher, mas você tem medo da fidelidade. Você é um cafajeste, desses que há por aí. Agora, seu destino foi reescrito dessa forma, moço.
Sentado no sofá ao lado de Maria, beijei-a e começamos a namorar. Tivemos um momento de intimidade como eu nunca antes tinha vivido.
Depois, perguntei:
— Você vai voltar?
— Gostou, né? — disse ela sorrindo. — Mas agora já era, homem!
Ela estava me dizendo que tudo o que eu senti quando estávamos juntos não teria repetição.
Maria se despediu de mim, me beijou, colocou seus brincos sobre a mesa e entrou no banheiro. Não saiu mais de lá. Ela desapareceu, e naquela madrugada, chorei como uma criança por ter perdido a oportunidade de tê-la para sempre.
Sim! Às vezes perdemos a oportunidade de ser fiéis porque temos medo da fidelidade. Temos medo do desconhecido! Maria me mostrou que não devemos jogar fora as oportunidades e que não devemos temer o desconhecido.
Uma semana depois, recebi a visita da jovem que conheci na Vila Mimosa. Marcamos um encontro e começamos a sair. Nos víamos toda semana e, com o tempo, ela me contou que havia largado a Vila Mimosa. Eu a ajudava financeiramente, e ela começou a ir à minha casa, ajudando-me com as coisas.
Logo, estávamos nos envolvendo seriamente.
Voltei várias vezes ao cemitério, e às vezes achava que iria encontrar Maria. Mas isso nunca mais aconteceu. Algumas vezes passava tarde da noite pelo Beco do Teles e imaginava que Maria pudesse aparecer para mim. E, sim! Ela aparecia, de longe. Às vezes, estava encostada no poste, com o cigarro entre os dedos, e eu via a silhueta de seu corpo e a fumaça do seu cigarro. Mas, quando me aproximava, ela sumia.
Maria era fiel! Ela cumpriu tudo o que me disse. Depois que comecei a ficar com a moça da Vila, ela nunca mais teve nada comigo.
Certa vez, após fazer amor com minha nova companheira, ela me disse que sabia que eu apareceria em sua vida.
Perguntei como ela sabia, e ela me contou:
— Uma vez, quando estava indo embora para casa e saía da Vila, vi uma mulher encostada no poste, com um cigarro entre os dedos e um chapéu na cabeça. Ela tinha cabelos longos e era muito bonita. Mandou-me colocar a mão entre os seios dela, pois queria me mostrar algo. Três cartas de baralho cigano saíram de sua mão. Ela me disse tudo o que estava acontecendo na minha vida e que um homem com suas características apareceria para me ajudar, e que ele seria meu marido.
Eu perguntei:
— Como era o nome dela?
— Maria! — respondeu minha nova esposa.
Fim.
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